Parte de um artigo do Jornal O PÚBLICO
"Peso das mulheres na sociedade
A gestão do núcleo familiar - considerado a base fundamental de toda a sociedade pelo Islão - cabe, quase na totalidade, à mulher, com tudo o que isto tem de positivo e de negativo. Para os muçulmanos, a mulher é o elemento harmonizador da família e é responsável pela estabilidade do núcleo.
Inicialmente, a Revolução Islâmica tentou mandar as mulheres para casa, com ofertas de reforma antecipada e de incentivos a trabalharem menos, mas as necessidades do país, nomeadamente durante a guerra com o Iraque, modificaram a situação e, hoje, as mulheres representam cerca de doze por cento da força laboral.
A nível da educação, a literacia feminina tem crescido muito. As mulheres representam cerca de metade dos alunos no ensino superior.
Na área da agricultura, o Departamento dos Assuntos Femininos tem tido uma acção positiva no desenvolvimento das zonas rurais. Mais de 60 cooperativas femininas abriram entre 1983 e1987, dirigidas e administradas por mulheres.
A representação das mulheres na sociedade civil tem aumentado, sendo-lhes permitido, actualmente, integrar as forças policiais ou ser juízas conselheiras, e assistir e jogar futebol.
A sociedade iraniana tem revelado uma certa abertura nos últimos anos, nomeadamente em relação a assuntos antes considerados tabu. Questões como a prostituição, fenómeno crescente, têm sido debatidas abertamente na imprensa. Nalgumas reportagens televisivas recentes, são mostradas imagens de toxicodependentes. Por outro lado, continuam a existir testes de virgindade obrigatórios para as mulheres. Caso a sua "pureza" não seja confirmada, as mulheres são punidas com chicotadas.
As mulheres têm vindo a exigir os mesmos direitos de herança, divórcio e custódia dos filhos (os maridos podem ficar com a custódia, desde que as filhas tenham idade superior a sete anos e os filhos a dois) do que os homens. Actualmente, as mulheres podem exigir que o contrato de casamento integre uma clásula relativa ao direito de pedir o divórcio (os homens podem fazê-lo sem apresentar qualquer justificação).
A maior tomada de consciência dos seus direitos sociais tem levado as mulheres a pedir o divórcio mais frequentemente. No entanto, os testemunhos femininos nos tribunais valem apenas metade dos masculinos e, nalguns crimes, não são admitidos de todo.
O Parlamento, dominado por reformadores, aprovou uma lei este ano que tornava obrigatória a aprovação do tribunal no que diz respeito a casamentos de raparigas com menos de 15 anos e rapazes com menos de 18. Esta lei, que se destinava a proteger as raparigas novas de casamentos forçados, foi, contudo, desaprovada pelo Conselho dos Guardiões da Constituição, que tem o poder de rejeitar legislação que vá contra a Constituição e a "sharia" (que permite os casamentos de raparigas a partir dos nove anos e de rapazes a partir do 14).
Apesar disto, as mulheres iranianas gozam de mais direitos e oportunidades do que as suas congéneres da maior parte dos Estados do Médio Oriente, podendo estudar, trabalhar, votar, conduzir, viajar sem a autorização do marido e exercer quase todas as profissões.
Em conversa com uma colega, vim a saber do caso da Iraniana MOHAMMADI ASHTIANI
As autoridades iranianas recuaram na sentença de morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos e condenada por adultério, cedendo à maciça pressão internacional dos últimos dias. Mas 12 outras mulheres iranianas e três homens permanecem nas prisões do país a aguardar execução por aquele mesmo meio.
Ashtiani foi condenada por ter mantido “relações ilícitas” com dois homens depois de ter enviuvado (Amnistia Internacional)
Em comunicado, a embaixada iraniana em Londres anunciou que “de acordo com informação prestada pelas autoridades judiciais competentes”, o apedrejamento foi cancelado. O regime de Teerão sublinha que “este tipo de punição só muito raramente foi implementado no Irão”, e condena a forma “duvidosa” como os media estrangeiros têm feito cobertura do assunto.
Não ficou claro se a justiça iraniana comuta a sentença de morte pronunciada a Ashtiani em Setembro de 2006; apenas é certo que ela já não morrerá enterrada até ao pescoço e apedrejada por voluntários, como dita a rígida interpretação da lei islâmica no país. Num caso similar anterior, a condenada acabou executada por enforcamento.
A execução no Irão por apedrejamento especifica que devem ser usadas pedras suficientemente grandes para causarem dor ao condenado, mas não o suficiente para o matarem de imediato. As mulheres são enterradas até ao pescoço, os homens apenas até à cintura – e perdoados os que conseguem libertar-se pelos seus próprios meios.
Filho defende “adúltera”
Ashtiani foi condenada, em Maio de 2006, por ter mantido “relações ilícitas” com dois homens depois de ter enviuvado, sendo então sentenciada a 99 chicotadas (a pena máxima para o sexo antes do casamento é de 100 chicotadas). Mas quatro meses mais tarde, noutro julgamento – de uma mulher acusada de ter morto o marido – foi dado como provado que Sakineh Mohammadi Ashtiani cometera adultério quando estava casada e, apesar de a arguida denunciar ter confessado sob coação, o tribunal condenou-a.
Desde que o advogado de Ashtiani, há quatro anos na prisão de Tabriz, revelou que a execução estava iminente – e que os pedidos de clemência foram rejeitados – avolumou-se uma campanha internacional para tentar impedir o apedrejamento. O filho de Ashtiani, Sajad, contou ao britânico The Guardian que as autoridades lhe permitiram visitar a mãe, tendo esta expresso gratidão pelo apoio recebido: “Foi a primeira vez que, em muitos anos, ouvi esperança na voz da minha mãe”, contou, num raro caso em que os familiares de uma condenada por adultério no Irão a defendem publicamente.
O regime de Teerão censura as informações sobre as execuções, mas é oficialmente reconhecido que outras 12 mulheres estão no “corredor da morte”, condenadas por adultério, assim como um dos três homens que aguardam a pena capital.
Entre essas mulheres está Azar Bagheri, de 19 anos, presa há quatro anos depois do marido a ter acusado de se encontrar com outro homem; e Ashraf Kalhori, de 40 anos, presa desde 2003 e que o advogado diz ter sido forçada a confessar ter mantido um relacionamento com o homem que foi condenado pelo homicídio do seu marido.
Em muitos destes casos, a ostracização e hostilidade familiar que as mulheres sofrem acrescem à pena, apontam muitos activistas iranianos. A condenação por adultério – válida ou não – mancha a honra dos familiares, que preferem que os nomes das condenadas não sejam pronunciados em público ou as suas fotografias divulgadas. É o caso de Shammameh Ghorbani, sentenciada a apedrejamento, e a qual durante o julgamento implorou para não ser libertada, temendo ser morta pela família."
Opinião:
Ao ler este artigo fiquei simplesmente arrepiada como é que isto ainda pode acontecer! Enforcada por adultério? Enforcada por uma opção de vida diferente? Isto é macabro! É um corte de perna a um ser humano. é algo desumano. sem explicação na minha cabeça! Alguém tem de fazer alguma coisa! Temos de agir! Unir-nos!
Este mundo está perdido!